A casa das palavras
Todos os dias proferimos palavras. Fazemos vibrar as nossas cordas vocais e é assim que comunicamos uns com os outros. Mas de onde vêm as palavras? Onde vivem?
De facto, ninguém espera que vivam numa casa gigante - T 1000 - que as albergue a todas, mas é mesmo isto que acontece! Como as palavras andam quase sempre de boca em boca, o seu lar funciona mais como um hotel que as abriga por uma noite. É aqui que as várias palavras têm os seus momentos de lazer e interagem umas com as outras.
No grande salão, todos os vocábulos fazem o que lhes apetece: a palavra “inglês” senta-se no sofá, de pernas cruzadas, a ler a edição diária do “Times” e serve-se de uma chávena de chá bem quente; a palavra “faminto” atira-se ao buffet e a palavra “ardimento” vai para um canto queixar-se de que a insultaram, chamando-lhe “arcaísmo”. Poucos a ouvem, mas isso não lhe importa.
Também há os que preferem o salão de jogos. “Convencido” já ganhou os jogos todos e, por isso, é o melhor do mundo. Não precisa de jogar mais nenhuma vez. Quando chega o “dinheiro”, todos se ajoelham perante ele para ver se conseguem algumas fichas extra para jogar. No entanto, a “sorte” raramente lá põe o pé, principalmente na zona do casino, e só porque acha aquele espaço muito brilhante.
Todas as palavras têm as suas manias e as suas rotinas na casa. A palavra “empregada” não sai do check-in há uma semana e eu, a palavra “sono”, vou já a correr para a cama mais próxima.
É assim cá em casa. Somos todas diferentes e gostamos umas das outras. Era bom que isso acontecesse entre aqueles que nos pronunciam. Se assim fosse, há muito que o “ardimento” tinha companhia nas suas queixas (refiro-me ao “calão” e, se calhar, é melhor nem descrever o seu temperamento). Infelizmente, a palavra “desejo” não está cá hoje. Ela diz sempre que vem, mas nem às festas de Natal aparece. Na verdade, há uns bons anos que saiu deste lar, doce lar, e nunca mais ninguém a viu por cá.
João Braga – 8.º A
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