E foi assim, no dia 14 de setembro, o email da Diretora ...
Partilho
 convosco este belo texto da Mafalda Anjos, Diretora da Revista Visão, 
pelo simples facto de me identificar, na íntegra, com as suas 
palavras... 
E já agora, que tal seguir as sugestões apresentadas? Vamos pensar nisto....
Votos de um excelente trabalho
"Caros amigos,
Não
 se importam que vos trate por amigos, certo? É que não vejo melhor 
palavra. Com quatro filhos em idade escolar, sinto que são uma espécie 
de companheiros de viagem. Escrevo-vos porque falar destes assuntos 
naquelas reuniões de pais é complicado – vocês sabem, é mais ou menos 
como nas reuniões de condóminos: muitos pais angustiados e impacientes e
 muitas perguntas idiotas sobre assuntos que não importam nada. 
O 
essencial parece que fica por dizer.
E
 há tanto para falarmos, caros professores, no arranque de mais um ano 
letivo, este marco definitivo nas rotinas de tantas famílias portuguesas
 como a minha. Espero encontrar-vos bem, carregados de energia para mais
 uma espécie de missão impossível – tenho a noção que é quase isso que 
se pede aos professores nos dias de hoje. Bem sei que muitos pais 
esperam que vocês façam todo o trabalho por eles: que ensinem, que 
eduquem, que sejam exemplos, que inspirem, que mantenham a serenidade em
 toda e qualquer situação, e que ainda por cima se contentem felizes com
 pouco como recompensa. Não é fácil corresponder a tanta expectativa, eu
 sei. Mas alguns de vós dão o vosso melhor e quase que chegam lá. 
Tiro-vos, honestamente, o chapéu.
Num
 ponto todos concordam – os professores moldam vidas e são eles o 
coração do sistema de ensino. Um bom professor guardamo-lo para a vida, 
marca para sempre. Mas não se deixem vergar pelo peso da 
responsabilidade. Não formalizem demasiado as relações. Tentem não 
perder a chama e a paixão dos primeiros dias, mantenham aquela boa dose 
de instinto na gestão de uma sala de aula. Usem e abusem do humor, sejam
 empáticos, sejam performers – era Steinbeck que dizia que um professor é
 um grande artista. A sala de aula é o vosso palco. Não se deixem 
formatar. Os melhores professores que tive foram sempre aqueles que 
fugiam do padrão.
Cada
 miúdo é um miúdo, não há fórmulas rígidas e infalíveis. Se tivesse de 
vos pedir uma só coisa, seria que se dedicassem a conhecer realmente as 
crianças que têm pela frente. O que lhes faz brilhar os olhos, o que 
detestam e o que lhes faz sono. Oiçam-nos: eles são mesmo seres 
incríveis. Acreditem, não será tempo perdido – a partir daí 
saberão 
como os agarrar.
Preocupem-se
 mais em estimular a curiosidade do que em debitar a matéria do manual. 
Aqui que ninguém nos ouve, quem me dera que pudessem esquecer essa 
rigidez das metas curriculares e algumas das coisas que se obrigam os 
miúdos a saber hoje em dia. Expliquem-lhes porque aqueles assuntos 
importam, e eles quererão conhecê-los melhor. Empinar matéria, em pleno 
século XXI, é absolutamente anacrónico. Os factos desgarrados são dados
 adquiridos: estão aí à distância de uma pesquisa no Google. Mais do que
 lhes dizer o que aconteceu, expliquem-lhes porque aconteceu assim. 
Façam-nos pensar, despertem-lhes a curiosidade, incentivem-nos a partir à
 aventura. Ensinar é a arte da assistência à descoberta.
Valorizem
 outras coisas que não as notas – venho a crer que elas importam afinal 
tão pouco na vida. Mais do que seres cheios de conhecimentos acumulados,
 ajudem a formar boas pessoas e adultos interessantes. Ensinem-lhes os 
valores da partilha, generosidade e espírito de equipa. Quem não ajuda 
um colega jamais deveria ter lugar num quadro de honra.
E,
 por favor, não menorizem os miúdos – deem-lhes máxima liberdade 
acompanhada de máxima responsabilidade. Eles têm desde cedo que perceber
 que a escola é o seu trabalho, não o dos pais. Imponham regras e 
limites claros desde o primeiro dia, e expliquem-lhes as consequências. 
Já agora, expliquem isso também aos pais, que cada vez mais tratam as 
crianças como flores de estufa no deserto para compensar a sua crónica 
ausência.
Peço-vos,
 é verdade, uma combinação de talentos e competências que parece quase 
de alquimia. Mas isto não é mística: é bem possível e há quem o faça 
todos os dias por essas escolas do País. Bem-hajam. "
Maria Manuela  Vieira Machado
Diretora do Agrupamento de Escolas Soares dos Reis
 
 
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