Bulling, ciberbulling e… aquilo que não é nenhuma das duas coisas
Vivemos tempos acelerados. A tecnologia avança a um ritmo tão rápido que, às vezes, a sociedade fica a tentar apanhar o comboio já em andamento. As escolas, naturalmente, não vivem numa redoma: lidam diariamente com os impactos desse avanço, com a obrigação acrescida de ajudar as crianças e os jovens a navegar este mundo novo sem se perderem pelo caminho.
Nesta fase de crescimento, a informação, e a forma como ela é trabalhada, é decisiva. E, convenhamos, quando em casa a gestão tecnológica acontece “aos trambolhões”, cabe muitas vezes à escola organizar aquilo que deveria vir mais alinhado. Não é uma crítica; é apenas a realidade.
A isto soma-se outra tendência dos nossos tempos: a cultura do medo. Tudo parece um alarme. Tudo parece um caso gravíssimo. E quando algo é repetido vezes suficientes (e alto o bastante), acaba por ganhar proporções desnecessárias. É aqui que importa respirar fundo e distinguir o essencial do acessório.
Hoje recebemos na nossa escola os agentes da Escola Segura para sessões sobre bulling e ciberbulling dirigidas aos alunos do 5.º ano, os mais novos da EB Soares dos Reis. As sessões foram claras, muito participadas e, acima de tudo, extremamente úteis para pôr os pontos nos i’s.
Os agentes foram cristalinos:nem todos os conflitos entre alunos são bulling.
Discussões pontuais, zangas repentinas ou divergências normais entre colegas acontecem todos os dias, e fazem parte do crescimento. Não é saudável transformar cada desacordo numa investigação judicial ou num processo disciplinar digno de tribunal. A escola não é, nem deve ser, um órgão punitivo; é um espaço educativo.
A abordagem recomendada é simples e sensata:
Primeiro, os alunos tentam resolver o problema entre eles, aprender a conversar, a gerir frustrações, a construir empatia.
Se não resultar, pedem ajuda a um professor ou a um encarregado de educação.
Se a situação for repetitiva, prolongada e intencional, aí sim, podemos estar perante um caso de bulling ou ciberbulling.
Esta distinção é essencial, até porque confusões constantes só criam ansiedade desnecessária, sobretudo quando alguns pais, mesmo bem-intencionados, acabam por amplificar episódios que não passam de conflitos normais entre jovens.
Mais importante ainda: estas sessões mostram que a escola está empenhada em prevenir, educar e acompanhar, em vez de apenas reagir e punir. Estamos a investir em ações regulares, consistentes e informadas, porque a melhor solução não é a mais ruidosa, é a mais pedagógica.
E é assim que queremos continuar: a construir uma escola que não se limita a apagar fogos, mas que ensina a queimar menos energia em conflitos desnecessários e mais em relações saudáveis.
Porque crescer não é fácil. Mas pode ser muito mais simples quando toda a comunidade escolar, alunos, professores e famílias, rema para o mesmo lado.

